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O mundo do trabalho e o trabalho no mundo

Seja bem-vindo ao Blog! Seu objetivo é compartilhar materiais (artigos, textos, informações, material de apoio) das disciplinas lecionadas por esta docente do Curso de Gestão de Agronegócios da Universidade de Brasília. É um espaço de comunicação com os discentes desta Professora-aprendiz.


terça-feira, 13 de agosto de 2019

Atenção! Vem aí a I Jornada de Gestão de Agronegócios (I JORGAN) - Semana de Extensão UnB

Dia 26/09 - Quinta-feira
16:00 às 18:30
Abertura – Prof. Dr. Marlon Vinícius Brisola 
A construção do Agronegócio Brasileiro (Profa. Dra. Suzana Maria Valle Lima) 
As múltiplas dimensões conceituais do Agronegócio (Profa. Dra. Maria Julia Pantoja) 
Representações Sociais sobre “Agronegócios” (Profa. Dra. Magali Costa Guimarães) 
Local: Sala BT 11/10 BSA SUL, Campus Darcy Ribeiro, Universidade de Brasília Código: 56266

18:30 às 21:00 
Panorama atual do agronegócio no Brasil (Msc. Bruno Barcelos Lucchi) 
Nova agenda política para o Agronegócio (Dr. José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho) Contribuições para o Agronegócio do Brasil no futuro (Dr. José Garcia Gasques) 
Local: Sala BT 11/10 BSA SUL, Campus Darcy Ribeiro, Universidade de Brasília Código: 56431

Link para inscrições https://www.sistemas.unb.br/siex/publico/oferta_extensao_listagem.xhtml (a partir de 01/09)

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO NOS CONTEXTOS PRODUTIVOS RURAL E AGROINDUSTRIAL







A temática Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) invadiu os espaços organizacionais e crescentemente tornou-se foco de atenção e investigação daqueles envolvidos com a pesquisa científica. Sua popularização nas organizações brasileiras se deu, principalmente, nas duas últimas décadas, sendo que a formulação de políticas e programas de Qualidade de Vida no Trabalho tornou-se, conforme destacamos em outro momento[1], uma panacéia para todos os males organizacionais.
Contudo, investigações de caráter científico também se intensificaram neste campo e estudiosos sérios, pertencentes às diferentes áreas do conhecimento, têm batido de frente com as propostas do tipo “ofurô corporativo”, sabiamente assim denominadas por Ferreira (2006)[2]. Merece destaque o princípio norteador destes diferentes estudos: a preocupação com os trabalhadores e com os diferentes elementos do trabalho que impactam sobre sua saúde e seu bem-estar biopsicosocial.
Não obstante, chamou-nos a atenção a quase ausência de estudos realizados em contextos produtivos rurais e agroindustriais. Esta “quase ausência” nos remeteu a alguns questionamentos e nos incentivaram a verificar tal assertiva. Dois questionamentos centrais nos incomodavam:
· Nestes setores não houve grandes mudanças que indicassem necessidade de investigação no campo da QVT?
· Por quê organizaçõ es urbanas – principalmente públicas e de serviços – constituem campo privilegiado de investigação relativa a esta temática no Brasil?
Com estes questionamentos partimos para um levantamento bibliográfico a fim de verificar se haveria preocupação, por parte dos pesquisadores brasileiros, com a QVT nestes contextos produtivos. Os resultados deste levantamento ainda serão publicados em um livro[3], mas gostaríamos de, neste pequeno texto, incentivar a reflexão e, por isso, adiantamos, ainda que sinteticamente, alguns “achados” e alguns pontos que ainda permanecem nos incomodando.
· Os pesquisadores/acadêmicos com formação em Psicologia e Administração – “áreas-chave” na compreensão dos problemas organizacionais – não se interessam pela pesquisa nestes contextos (rural e agroindustrial). A maior parte das investigações de pesquisadores com esta formação se concentra no setor de comércio e serviços.
·  Apesar, não só de denúncias, mas de investigações científicas demonstrarem os problemas que enfrentam os trabalhadores que atuam nas agroindústrias brasileiras levando ao sofrimento físico e psíquico, poucas investigações sobre esta temática (QVT) foram realizadas. Dos 121 estudos levantados no Banco de Teses da Capes[4], somente 5 foram realizados em agroindústrias.
·    Nenhum estudo foi encontrado no denominado “dentro da porteira”, em organizações rurais propriamente ditas. Apesar das atividades realizadas neste contexto produtivo serem consideradas umas das mais perigosas em termos de saúde e segurança no trabalho.
Não é de estranhar a ausência de estudos nos campos da Psicologia Organizacional e do Trabalho e da Administração nestes contextos produtivos, já que, historicamente, a atuação destes profissionais se deu inicialmente nas indústrias, e, posteriormente, no setor de serviços, com destaque para a atuação nas organizações públicas.
Contudo, tal fato não deve justificar a permanência do desinteresse (ou pouco interesse) pelos fenômenos psicossociais e organizacionais, no âmbito das organizações rurais e agroindustriais. Atingidas – em espaço temporal diferente das indústrias – por reestruturações produtivas que transformam as condições e os modos de trabalho, estas organizações empregam um grande número de trabalhadores brasileiros e integram o pujante agronegócio do país.
Importante ainda ressaltar, que a ausência histórica, já assinalada, não deve servir para justificar o abandono atual das populações rurais por aqueles envolvidos em pesquisas científicas nos diferentes campos do conhecimento. Ideologicamente, tal ausência parece revelar ser o construto Qualidade de Vida no Trabalho (e tudo que ele agrega) como exclusivo à população urbana, reforçando a imagem de que os problemas relativos ao trabalho (desgaste, estresse, sofrimento, dentre outros) também se restringem a esta população, apesar da precariedade prevalecente nos contextos produtivos agroindustrial e rural.
A Qualidade de Vida no Trabalho é uma demanda de todos os trabalhadores. Em um país em que as projeções para o agronegócio se destacam, não é possível o "esquecimento" (quiçá omissão/negligência), por parte dos pesquisadores,  dos inconvenientes que uma grande parte dos trabalhadores deste setor produtivo ainda padece.




[1] Ferreira, M. C., Almeida, C. P. de, Guimarães, M. C. & Wargas, R. D. (2010). Qualidade de vida no trabalho: a ótica da restauração corpo-mente e o olhar dos trabalhadores. In: M. C. Ferreira, J. N. G. Araújo, C. P. Almeida & A. M. Mendes (Orgs.). Dominação e resistência no contexto trabalho-saúde (pp. 159-182). São Paulo, SP: Universidade Presbiteriana Mackenzie.

[2] Ferreira, M. C. (2006). Ofurô Corporativo. Portal da Universidade de Brasília, Brasília, DF. Recuperado em 14 de março de 2006. Obtido em http://www.unb.br/acs/artigos/at0306-03.htm.

[3] Versão inicial foi apresentada no “GT Reestructuración productiva, trabajo y dominación social” do XXIX Congreso de Sociología ALAS – Chile 2013.

[4] Nossa consulta envolveu os trabalhos publicados no Banco de Teses da Capes, na Scientific Electronic Library Online – Scielo e no portal de Periódicos Eletrônicos em Psicologia – PePSIC.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

ATLETAS E TRABALHADORES



Presenciei nestas duas últimas semanas cenas de fortes emoções. Os atletas olímpicos demonstraram ser capazes de realizar o que para muitos de nós parece impossível. Perfeição, força, flexibilidade, agilidade e perseverança são alguns dos adjetivos para qualificar o “trabalho” dos atletas. A superação diante da dor, visível por nós e sentida por eles, também nos fizeram emocionar. Foi assim no tênis, no vôlei, na ginástica olímpica... No levantamento de peso foi terrível assistir o braço do atleta se rompendo com a força do peso por ele levantado. Seu choro sentido parecia ser menos pela dor e muito mais por perder aquela oportunidade única: realizar seu sonho e ser reconhecido com a medalha!

Ao final das competições muitos choros. Ora por felicidade e euforia diante da vitória ora por tristeza e angústia diante da derrota. Ao serem entrevistados, tantos os atletas “derrotados” quanto os vencedores, apresentavam um discurso muito semelhante. O vencedor salientava que seus esforços, sacrifícios não foram em vão, pois agora tudo parecia valer a pena. O “derrotado” se lamentava, pois havia se esforçado tanto, feito tantos sacrifícios... Tantas horas de treino e dedicação, tantas horas longe da família, tantas e tantas coisas postas de lado em prol de seu trabalho como atleta. Entretanto, muitos reafirmaram que continuariam em busca de seu sonho olímpico.

Todas essas cenas e discursos, presenciados por todos nós, fizeram-me lembrar de outras cenas e discursos. E não sei se tão diferentes... Lembrei-me dos esforços, sacrifícios e dedicação daqueles que trabalham horas a fio nos escritórios, nas indústrias, na construção civil, nos hospitais e no campo. Estudando o trabalho não é difícil identificar verdadeiros “medalhistas olímpicos” que com sua inteligência e zelo driblam os inconvenientes da organização do trabalho e das condições de trabalho que lhe são impostas, realizando verdadeiras proezas:
  •  O professor que leciona – e consegue preparar bem a sua aula - apesar do excesso de trabalho e de controles impostos pela gestão das organizações de ensino privadas ou apesar da falta de condições de trabalho das organizações públicas e do produtivismo prevalecente;
  •  O assistente do conselho tutelar que zelosamente leva a criança maltratada para sua própria casa, por não ter o devido amparo das Instituições públicas que este serviço deveriam prestar;
  •  O trabalhador rural que adoece e envelhece seu corpo para dar conta dos objetivos de produção;
  • O enfermeiro (de hospitais públicos, principalmente) que cuida do enfermo, apesar da sobrecarga de trabalho, da falta de material e de suporte;
  • O atendente do serviço público que, apesar da burocracia e da incompetência disseminadas, consegue atender eficazmente o cidadão;
Tantos outros trabalhadores “comuns”, que colocados diante de líderes autoritários, de pressões diversas e situações adversas, ainda conseguem realizar sua atividade de trabalho. Muitas vezes, a um custo físico e emocional elevadíssimo. O sofrer e o adoecer acabam se tornando parte do cotidiano destes trabalhadores. Exemplos e mais exemplos não faltam no mundo do trabalho de pessoas que superam seus limites e ultrapassam verdadeiras barreiras a fim de cumprirem com suas tarefas. Infelizmente, neste contexto, a dor e o adoecimento geralmente nos são invisíveis. Muitas vezes, o próprio trabalhador se cala diante dos primeiros sinais de adoecimento.
Para muitos faltam a “medalha” do reconhecimento. E como já nos disse um grande especialista: sem o reconhecimento só resta o sofrimento. Sofrimento este, que retira do trabalho o seu sentido, afetando por sua vez, a forma como ele (o trabalho) irá estruturar nossa identidade. “Quando a qualidade do meu trabalho é reconhecida, também meus esforços, minhas angústias, minhas dúvidas, minhas decepções, meus desejos adquirem sentido. Todo esse sofrimento, portanto, não foi em vão; não somente prestou contribuição à organização do trabalho, mas também fez de mim, em compensação, um sujeito diferente daquele que eu era antes do reconhecimento. (DEJOUS, 1999, p. 34).
O reconhecimento, a “medalha olímpica”, se presta, portanto, à estruturação de nossa identidade, do “Quem eu sou”. “O que eu faço” é definidor do “Quem eu sou”. Temos visto nas pesquisas que realizamos que para uma grande parte dos trabalhadores brasileiros, quiçá do mundo, os seus esforços, sacrifícios e angústias são sim, em vão. Não há amparo, não há suporte, não há apoio e, muito menos, um mero elogio. Não há remuneração digna e condições de trabalho que viabilizem o seu fazer. Eu suma, não há “medalha”!
Como ao atleta, poderíamos perguntar: “De onde tirar forças para continuar em busca do ‘sonho olímpico’?”. Talvez não saibam responder, mas trabalhadores, e não somente atletas, são para mim exemplos claros de superação humana!

sexta-feira, 13 de julho de 2012

SEGUE MINHA VISÃO DE TRABALHO EM VERSOS...

 
 
"O trabalho"


Trabalho que executo
Trabalho que desgasta
Que me anula e me arrasta
Para o vazio e solidão.

Trabalho que realizo
Trabalho que enobrece
Me cobra, exige e me engrandece
Segue o ritmo acelerado do coração.

Trabalho que faço
Trabalho que me ignora
Me adoece, esmaga e me coloca
No ritmo acelerado da produção.

Trabalho em que me esmero
Que me cura e marca
Me une ao outro, ao mundo e me retrata
Inserindo-me no mundo da razão.

Construo, ergo e planto
Conserto, desenho e acalanto
Ensino, escrevo e dirijo
Dobro, emito e arquivo
Trabalho, esforço e preocupo
Suporto, vivo e labuto.

Tão paradoxal quanto viver
É sofrimento e é prazer
Caminho para a realização
Ou para a anulação.